CVM chinesa investiga a PwC por distorções em auditoria da Evergrande. Alvo de processos no Brasil por rombo contábil na Americanas e graves violações.
Em março de 2024, quando a fraude financeira de uma multinacional chinesa veio à tona, mais uma vez a reputação da PwC foi questionada. Responsável pela auditoria da empresa, a PricewaterhouseCoopers agora enfrenta um desafio global.
Com escritórios em mais de 150 países, a PwC é uma das empresas mais renomadas no ramo da auditoria e consultoria. A PricewaterhouseCoopers é conhecida por sua atuação imparcial e rigorosa, porém, escândalos como esse abalam a confiança dos investidores e colocam em xeque a ética e transparência das grandes corporações.
Investigação da CSRC sobre PwC na China
A bola da vez que está colocando o nome da empresa em jogo é o caso da Evergrande, incorporadora que, em 2021, foi o estopim da crise imobiliária na China e da onda de calotes do setor no país. E que, em janeiro deste ano, teve sua liquidação decretada por um tribunal de Hong Kong.
No capítulo mais recente desse caso, o grupo foi multado na última quarta-feira em US$ 580 milhões pela Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC), sob a acusação de que o Hengda Real Estate Group, uma de suas empresas, inflou suas receitas em cerca de US$ 78 bilhões, em 2019 e 2029.
Responsabilidade da PwC na auditoria da Evergrande
Nesta sexta-feira, em mais um desdobramento dessa história, a agência Bloomberg informou que a CSRC está investigando o papel da PwC nesse episódio. As autoridades estão conversando com profissionais da empresa que atenderam a Evergrande. Mas ainda não há uma decisão sobre sanções.
‘A verificação desse tipo de distorções é uma das rotinas de auditoria mais básicas’, afirmou Richard Murphy, professor de práticas contábeis da Universidade de Sheffield, à Bloomberg.
‘O risco para a reputação da PwC, não apenas na China, mas de forma mais ampla, é muito real.’ Na prática, a Evergrande registrava receitas de vendas contratadas antes de concluir e entregar seus projetos aos clientes. A empresa começou a ter problemas de fluxo de caixa em 2021 e, no fim do mesmo ano, deixou de cumprir suas obrigações, com mais de US$ 300 bilhões em débitos.
Falência da Evergrande e impacto na PwC
Embora boa parte da culpa seja atribuída a Hui Ka Yan, fundador da Evergrande, o fato de o grupo estar com sua falência decretada em Hong Kong pode respingar na PwC. Na tentativa de recuperar recursos dos credores, esse processo pode passar por pedidos de indenização junto à firma de auditoria.
Ainda em Hong Kong, a PwC também está sendo investigada pelo Financial Reporting Council por não ter identificado a capacidade da Evergrande de seguir com sua operação. O processo cobre os dados da incorporadora nos anos de 2020 e de 2021. Os riscos da empresa não se restringem, porém, a Evergrande.
Boom imobiliário na China e atuação da PwC
Segundo dados compilados pela Bloomberg, entre as ‘big four’, a PwC foi a mais atuante entre as incorporadoras chinesas durante o boom imobiliário no país. Nessa carteira, a empresa atendeu nomes que, posteriormente, também deixaram de pagar suas dívidas, como Country Garden e Sunac. Ainda não está claro, porém, se essas e outras incorporadoras tiveram práticas semelhantes a Evergrande.
O alvo das autoridades chinesas não está, porém, centrado apenas na PwC. Em 2023, por exemplo, a Deloitte foi multada em 212 milhões de yuans e teve as operações do seu escritório suspensas por três meses por ‘sérias deficiências de auditoria’ na estatal China Huarong Asset Management.
Problemas da PwC em outros mercados
No caso da PwC, a investigação da CSRC só agrava um cenário que, além da China, já inclui escândalos e problemas em outros mercados. Um exemplo é a Austrália, onde a empresa foi acusada de divulgar planos fiscais confidenciais do governo a clientes.
Já no Reino Unido, em março de 2023, o grupo foi multado em 7,5 milhões de libras esterlinas (US$ 8,9 milhões) por falhas e ‘violações graves’ na auditoria do Babcock International Group, referente aos anos de 2017 e 2018.
No Brasil, a PwC também está no centro de processos administrativos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apurar, entre outras questões, eventuais irregularidades em sua atuação no caso da Americanas. O grupo era o responsável por auditar os balanços da varejista desde 2019.
Relacionados Na Deloitte, a ‘tesoura’ do corte de custos será dentro de casa Muito além do Silicon Valley Bank: as falhas nas auditorias de bancos nos EUA Na Alemanha, auditorias também pagam a conta: EY é punida na saga da Wirecard
Fonte: @ NEO FEED
Comentários sobre este artigo