Astrobióloga investiga se cultivar diferentes espécies vegetais em conjunto otimiza recursos e garante segurança alimentar em futuras colônias humanas em Marte, recuperando solos degradados na Terra.
A brasileira Rebeca Gonçalves lembra com saudades das histórias que ouvia de um tio astrônomo durante a infância. Para ela, saber os detalhes de plantar, constelações, astros e satélites sempre foi objeto de fascinação. Porém, alguns anos depois, quando chegou a hora de escolher a faculdade, ela optou por se especializar em outra área de interesse: a biologia.
Enquanto Rebeca se dedicava aos estudos de biologia, também encontrava tempo para plantar em seu pequeno jardim. Cultivar novas espécies de plantas se tornou uma paixão paralela à sua carreira acadêmica. Com o passar do tempo, ela percebeu que produzir alimentos orgânicos era uma forma de conectar sua formação científica com a prática diária de cuidar da natureza. Rebeca encontrou no ato de plantar e produzir uma maneira de unir suas paixões e contribuir para um mundo mais sustentável.
Explorando novas fronteiras na agricultura espacial
À época, Gonçalves tinha uma concepção equivocada de que o setor espacial era exclusivo para aspirantes a astronautas. No entanto, após se formar em Ciências Biológicas e trilhar sua carreira, ela se viu em meio a uma crise existencial. Surgiram questionamentos sobre seu propósito e paixões verdadeiras.
Foi então que a ideia de unir suas duas paixões, biologia e espaço, floresceu em sua mente. O sonho de se tornar uma astrobióloga começou a ganhar forma. Em busca desse objetivo, Gonçalves descobriu um programa de mestrado na Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, especializado em Análise de Sistemas de Colheita.
A pesquisa da brasileira se concentrou em explorar como utilizar de forma eficiente recursos limitados, como água, nutrientes e energia, para plantar alimentos em Marte. A segurança das futuras colônias marcianas depende da capacidade de produzir alimentos localmente, sem depender de suprimentos da Terra.
Sob a orientação do renomado ecologista e exobiólogo Wieger Wamelink, Gonçalves mergulhou no desafio de investigar a viabilidade de cultivos extraterrestres. Wamelink é um dos pioneiros nesse campo emergente, com várias publicações sobre o tema.
A inspiração para enfrentar esse desafio veio do passado, da prática milenar de policultura dos maias. Essa antiga civilização mesoamericana, conhecida por suas realizações em diversas áreas, incluindo a agricultura, cultivava diferentes plantas em um mesmo espaço, promovendo interações benéficas entre elas.
Ao estudar as técnicas agrícolas dos maias, Gonçalves vislumbrou a possibilidade de aplicar a consorciação de culturas em Marte. Essa abordagem, baseada na complementaridade entre espécies, poderia garantir a sobrevivência das plantas e até aumentar sua produtividade em um ambiente tão desafiador.
A proposta inovadora de Gonçalves recebeu apoio entusiasmado de seu orientador, abrindo caminho para novas descobertas e avanços na agricultura espacial. O desafio de plantar em Marte se revelava como uma oportunidade única de explorar novas fronteiras e expandir os horizontes da ciência.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
Comentários sobre este artigo