Especialista alerta: oito horas de trabalho, lazer e descanso são armadilha da capitalização do tempo em sociedades modernas.
Jenny Odell é uma figura familiar em alguns círculos de entusiastas de tempo e eficiência. E não por motivos positivos, não.
Seu trabalho, que explora a temporalidade e a importância de desacelerar, tem despertado debates acalorados. A reflexão sobre o tempo e a necessidade de pausas são temas centrais em suas obras.
Reflexões sobre a temporalidade e a cronodiversidade
Há alguns anos, uma autora lançou um livro provocador intitulado ‘Como não fazer nada’, que criticava a capitalização do nosso tempo, a rentabilidade da nossa atenção e o estado de impaciência e ansiedade em que vivemos. Agora, ela retorna ao debate com uma nova obra que, para além das manchetes, aborda a importância da cronodiversidade. A palavra pode soar estranha à primeira vista, mas a ideia por trás dela é simples: reconhecer que o tempo (ou melhor, a temporalidade) é um construto cultural fundamental. Compreender isso é o primeiro passo para perceber que o ritmo e a velocidade com que vivemos nas sociedades modernas estão longe de ser normais.
Em uma recente entrevista ao El Mundo, foi mencionado que desde cedo somos ensinados que tempo é dinheiro. A ideia de que precisamos vender uma parte significativa do nosso dia para pagar contas é amplamente aceita. Assim, estruturamos nossa existência em torno do relógio corporativo. No entanto, será que existem outras formas de conceber o tempo?
O tempo é uma entidade multifacetada, como nos lembra Odell em suas reflexões. Ela fala sobre conceitos como ‘tempo indígena, tempo das mulheres, tempo negro ou tempo coletivo queer’. Embora não seja necessário adotar todas essas categorizações, é inegável que a maneira como conceituamos e gerenciamos o tempo tem um impacto profundo em nossas vidas.
Recentemente, discutimos a estratégia de fragmentar o tempo de forma eficaz para aumentar a produtividade. Mas e se considerarmos o oposto? Por que nos prender à rigidez dos três oitos (oito horas de trabalho, oito de descanso e oito de tarefas não produtivas)?
Cada vez mais vozes se levantam contra a jornada de oito horas como um modelo improdutivo. Defensores da semana de quatro dias e defensores da redução da jornada de trabalho argumentam que o trabalho remoto e a tecnologia moderna têm diluído as fronteiras entre vida profissional e pessoal.
Em um mundo de trabalho remoto e hiperconexão, a teoria dos três oitos passou por transformações significativas. Agora, as oito horas de disponibilidade se juntaram às oito de trabalho e oito de descanso, resultando em uma constante pressão para estar conectado, invasão do espaço privado e estresse crônico.
O esgotamento não é mais um problema restrito ao ambiente de trabalho. Está se espalhando para outras áreas de nossas vidas, exigindo uma reflexão profunda sobre como lidamos com o tempo e a velocidade impostos pela sociedade moderna.
Fonte: @ Minha Vida
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