Sistema de crédito habitacional para nova geração: tradição da poupança já não encanta, mas taxa básica sustenta o sistema financeiro.
Há alguns anos, escrevi um artigo para o Valor com o título ‘A importância da Selic para a economia brasileira’. Nele, destaquei como a taxa básica de juros influencia diretamente diversos setores, incluindo o mercado imobiliário. A variação da Selic tem impacto significativo nas decisões de investimento e financiamento no país.
Além disso, a compreensão dos efeitos da Selic e dos juros é essencial para uma gestão financeira eficiente. A variação da Selic pode afetar diretamente o custo do crédito e o rendimento de investimentos, sendo fundamental acompanhar de perto as movimentações do mercado financeiro para tomar decisões estratégicas.
Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e a Selic
Em qualquer coluna sobre o sistema financeiro, é crucial considerar a influência da Selic. A taxa básica de juros, conhecida por seu impacto nos juros, desempenha um papel fundamental no sistema de crédito habitacional. Em um cenário teórico ideal, onde a educação financeira é disseminada, a elevação da Selic para mais de 13% poderia esvaziar as cadernetas de poupança, deixando recursos limitados para o crédito imobiliário. A questão que surge é: de onde viria o dinheiro para financiar a compra de imóveis?
Avançando para 2024, vemos que os juros básicos, que estavam recentemente acima de 13%, caíram para 10,50%, mas permanecem em patamares de dois dígitos. Apesar disso, a deseducação financeira persiste no sistema financeiro. O saldo das cadernetas de poupança ainda ultrapassa os R$ 980 bilhões, sendo R$ 740 bilhões destinados ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que alimenta o setor imobiliário.
No entanto, esse montante, embora impressionante, não atende completamente às demandas do setor. Em comparação com anos anteriores, o saldo é nominalmente menor, o que indica uma redução nos rendimentos. Enquanto o crédito imobiliário continuou crescendo, a disponibilidade de recursos para financiamento de imóveis para os brasileiros tornou-se limitada.
Em um evento recente do setor de construção, o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, expressou preocupação com a ‘sangria’ dos recursos da poupança, destacando a migração desses recursos para bancos que não participam do SBPE e não oferecem crédito imobiliário. A vice-presidente de habitação da Caixa, Inês Magalhães, mencionou que o sistema atual está enfrentando um ‘certo esgotamento’.
Nos bancos privados, a relação entre crédito imobiliário e depósitos de poupança tem aumentado significativamente, atingindo 84% no primeiro trimestre. O Banco Central estabelece a destinação mínima de 65% dos recursos captados via poupança para crédito imobiliário, o que tem levado os bancos a emprestarem mais do que o exigido.
No entanto, a captação a custo reduzido, como a poupança, está se tornando escassa para sustentar o ritmo de concessão de empréstimos. Uma alternativa adotada pelos bancos é a emissão de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que permitem repassar recursos aos tomadores com um custo viável, devido à isenção de Imposto de Renda sobre os ganhos para os investidores.
Apesar disso, as perspectivas futuras não são otimistas. O aumento da carência mínima das LCIs, de três meses para 12 meses, tem reduzido o interesse pelos investidores, impactando a disponibilidade de recursos para o crédito imobiliário. A incerteza em relação à captação de recursos a custos acessíveis coloca desafios adicionais ao sistema financeiro habitacional.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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