Piloto de Curitiba, com 432 missões e 33 vitórias, abatendo aviões inimigos. Era vice-consul francês em transatlânticos italianos no alto-mar.
Ao saber que a esposa estava grávida, o vice-cônsul da França no Brasil, Jacques Clostermann (1895-1983), tomou a decisão de que o filho nasceria em seu país de origem. Por isso, rapidamente adquiriu duas passagens de primeira classe no transatlântico italiano Principessa Mafalda, um dos mais luxuosos da época, com capacidade para transportar até 1.530 passageiros.
No entanto, durante o desembarque na Normandia, algo inesperado aconteceu, mudando o rumo dos planos de Jacques Clostermann. Mesmo assim, a viagem marcou para sempre a vida da família, com lembranças que perduraram por gerações.
Dia D: O Dia do Desembarque na Normandia
No entanto, um imprevisto surgiu durante a viagem de transatlântico em alto-mar, a aproximadamente 200 milhas da costa brasileira, forçando o vice-consul da França a alterar seus planos. Foi nesse momento que Clostermann decidiu levar sua esposa, Madeleine Carlier (1895-1984), grávida de sete meses, para dar à luz em Curitiba, localizada a 397 quilômetros de Santos, acompanhada por um médico de confiança – um ginecologista austríaco.
No dia 28 de fevereiro de 1921, nasceu o único filho do casal: o franco-brasileiro Pierre Henri Clostermann. Vinte e três anos, três meses e seis dias depois, Clostermann entrou para a História como o único brasileiro conhecido por participar do Dia D, em 6 de junho de 1944, que marcou o desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia, no norte da França, então ocupada pelos nazistas.
‘Um peixinho no oceano. É assim que eu me sentia’, descreveu em 2004, aos 83 anos. ‘Na guerra, você avista um avião pelo retrovisor e não sabe se é amigo ou inimigo. Essa sensação dura um segundo, mas acredite: é muito desagradável. Eu só conseguia pensar em uma coisa: ‘Quero dar o fora daqui o mais depressa possível!’’. Essa declaração foi feita ao músico João Barone em 1º de junho de 2004, na residência do ex-piloto, na cidade francesa de Perpignan.
Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, viajou para a França para participar das comemorações de 60 anos do Dia D. Seu pai, João de Lavor Reis e Silva (1918-2000), estava entre os 25.334 pracinhas brasileiros que lutaram na Segunda Guerra. Antes de embarcar, o músico entrou em contato com a Força Aérea Brasileira (FAB) para prestar homenagem ao único brasileiro conhecido por participar da invasão.
A FAB enviou uma comitiva de ex-combatentes do 1º Grupo de Aviação de Caça, o famoso Senta a Pua!, para entregar a Clostermann a medalha Santos Dumont, a mais alta condecoração da Aeronáutica. A prefeitura de Curitiba também prestou homenagens ao ilustre filho com uma placa. O brigadeiro Rui Moreira Lima (1919-2013) foi um dos três ex-pilotos da FAB que viajaram para homenagear Clostermann.
Durante a viagem, o veterano compartilhou histórias com Barone sobre o dia em que, nos anos 1950, se encontraram no Rio de Janeiro para conversar. Entre um chope e outro, terminaram a noite em uma animada roda de choro em um bar da Zona Norte. E quem eles encontraram lá? Pixinguinha (1897-1973) e Jacob do Bandolim (1918-1969).
Clostermann se considerava francês no papel, mas brasileiro de coração. Sua história era digna de um grande filme, conforme relatou Barone, que transformou sua viagem em um documentário intitulado ‘Um Brasileiro no Dia D’ (Editora Abril, 2006) e em um livro chamado ‘A Minha Segunda Guerra’ (Panda Books, 2009).
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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